Tire 5 dúvidas sobre saúde bucal de crianças com deficiência
Por Dr. Matheus Racy
Dr. Matheus Racy Mariusso, odontopediatra especialista no tratamento de pacientes com deficiência, concedeu uma entrevista com exclusividade para a Ludens e esclareceu as dúvidas que os pais mais têm sobre os cuidados bucais de seus filhos. Vale a leitura abaixo!
1- Uma das maiores dúvidas dos pais de crianças com deficiência é: como cuidar da saúde bucal? É possível tratar essas crianças? Depende do nível de severidade da condição?
Vejo com frequência, nestes casos, pais ou responsáveis que procuram tratamento odontológico para seus filhos e dependentes tardiamente, muitas vezes quando já são adultos. Isso pode acontecer por diversos fatores: desconhecimento da possibilidade de tratamento, acúmulo de tarefas e rotina desgastante, medos e insegurança e até mesmo episódios traumáticos de tratamentos anteriores. É muito importante ressaltar que há a possibilidade de tratamento, independente das condições, e a ligação entre profissional e família tem um papel fundamental no sucesso deste tratamento.
É preciso criar um vínculo de segurança entre todas as partes envolvidas (profissional, família e paciente) e a partir deste vínculo fazer adaptações necessárias para suprir as necessidades daquele núcleo familiar, além de desenvolver o tratamento odontológico necessário para manutenção da saúde bucal.
De uma maneira geral, não conseguimos traçar um padrão de tratamento. Seres humanos têm necessidades diferentes e respeitando essas diferenças, conseguimos um tratamento eficiente. Respeito é a palavra-chave.
2- Quais são os maiores problemas bucais que essas crianças apresentam no decorrer da vida?
É possível verificar uma grande frequência de cárie dentária e de doença periodontal (inflamação e infecção da gengiva, osso e ligamentos). Apesar de muitas pessoas não darem a devida importância, ambas doenças são graves e com o avanço causam a perda dos dentes. Além disso, a saúde bucal está intimamente ligada ao resto do organismo e qualquer foco infeccioso na boca pode representar um grande risco para nossa saúde. É importante ressaltar que estas doenças podem ser prevenidas e que a prevenção ainda é a melhor forma de tratamento.
Pode-se observar, ainda, bruxismo, mudança na forma e quantidade dos dentes, outros tipos de infecção, problemas ósseos e de mordida, entre muitas outras alterações bucais acontecendo com frequências e intensidades diferentes de indivíduo para indivíduo.
3- Como você orienta os pais a cuidarem das boquinhas de seus filhos em casa, tendo em vista as dificuldades que elas apresentam para algumas simples atividades?
É muito importante entender a rotina de cada família, os hábitos já instalados e as dificuldades encontradas para os cuidados diários e as limitações impostas às crianças com deficiência. A partir desta análise, é possível criar estratégias para que a higienização dos dentes e da boca seja feita de maneira eficiente e menos traumática – tanto para a criança quanto para os cuidadores/pais -, além da orientação para utilizar escovas e cremes dentais adequados.
4- De que forma a saúde bucal pode contribuir para a inclusão dessas crianças? Existem ações para isso?
Quando promovemos a verdadeira inclusão social, estamos garantindo que todos terão seus direitos de cidadão e dentre estes direitos está o acesso a bons índices de saúde.
Além disso, pensando que a luta pela inclusão busca a inserção das pessoas com deficiência na sociedade nas diversas esferas (escola, mercado de trabalho ou em ações cotidianas), espera-se que elas tenham condições para desfrutar desta inserção e, portanto, que ela esteja saudável e tenha qualidade de vida.
Assim, não se pode falar de inclusão social sem saúde, da mesma forma que um bom atendimento odontológico deve ser inclusivo.
5- De maneira geral, as crianças conseguem manter a saúde bucal em dia?
Não existem regras na área da saúde e quando se fala de pessoas com deficiência, tudo fica ainda menos exato. Existem muitas variáveis que influenciam na manutenção da saúde bucal, porém, é muito importante entender que é possível manter bons índices de saúde. Para isso, é importante o desenvolvimento de bons hábitos de alimentação e higiene em casa e visitas frequentes ao dentista. Em todo esse processo, preza-se por uma rede de apoio que pode ser constituída por diversas pessoas, escola e também pelo profissional de confiança da família.