O poder das vacinas
Do que são feitas as vacinas? Como elas agem no organismo? Quais as principais vacinas que toda pessoa deve tomar no decorrer da vida? O pediatra especialista no assunto, Luis Alberto Verri, que atende no Hospital Vera Cruz e há 22 anos atua com vacinas na Clínica Previna, respondeu a essas e outras dúvidas, e contou com a contribuição da enfermeira Juliana S. Leite Ferreira.

“A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que de 2 a 3 milhões de mortes a cada ano são evitadas pela vacinação” – Dr. Luis Alberto Verri
Confira a entrevista:
1- O que são vacinas?
Vacinas são substâncias produzidas com bactérias ou vírus (ou partes deles) mortos ou enfraquecidos que não deixam desenvolver a infecção quando o organismo é invadido pelos mesmos. Para proteger nossa saúde, as vacinas precisam estimular o sistema imunológico para que produza anticorpos, agentes de defesa do organismo que atuam contra bactérias ou vírus que provocam as doenças infecciosas.
O sistema imune também tem a capacidade de se lembrar das ameaças já combatidas ou das vacinas recebidas, por isso, sempre que os agentes infecciosos entram em contato com nosso organismo, o complexo processo de proteção é reativado.
2- Quais são as principais vacinas que toda criança deve tomar ao longo da infância? E os adultos?
Existem vacinas que devem ser aplicadas na infância, outras na fase adulta e vacinas que podem ser aplicadas tanto em adultos quanto em crianças, como é o caso da vacina contra gripe.
As principais vacinas recomendadas ao longo da vida são:
• BCG: Proteção contra formas graves de tuberculose.
• Hepatite B: Proteção contra a hepatite causada pelo vírus B.
• Hexavalente-: Proteção contra a difteria, tétano, coqueluche, paralisia infantil, hepatite B e Hib. A vacina acelular é menos reatogênica do que a vacina de células inteiras dos postos de saúde. Integra a rotina de vacinação para crianças a partir dos 2 meses aos 7 anos de idade.
• Rotavírus: Imunização contra infecções gastrintestinais causadas pelo rotavírus.
• Pneumocócicas Conjugadas (10-valente e 13-valente): Proteção contra infecções invasivas causadas pelo pneumococo.
• Meningocócica Conjugada ACWY: Proteção contra infecções graves causadas pelos meningococos tipo A, C, W e Y.
• Meningocócica C Conjugada: Proteção contra as meningites causadas pelos meningococo tipo C.
• Meningocócica B: Proteção contra doença meningocócica invasiva causada pelo meningococo do tipo B.
• Gripe (Influenza): Proteção contra infecções causadas por vírus influenza (gripe) e suas complicações.
• Febre Amarela: Prevenção contra febre amarela.
• Hepatite A: Proteção contra a hepatite causada pelo vírus A, que é transmitido por água e alimentos contaminados, principalmente em áreas endêmicas e com saneamento básico precário.
• Sarampo / Caxumba / Rubéola / Varicela (Tetra Viral): Proteção contra rubéola, caxumba, sarampo, varicela e suas complicações.
• Varicela: Proteção contra a varicela (catapora).
• HPV: Protege contra as doenças causadas pelo papiloma vírus humano (HPV).
• Tríplice Bacteriana Acelular do Adulto (dTpa) – difteria/ tétano/ coqueluche: Proteção contra a difteria, tétano e coqueluche (reforço a cada 10 anos).
• Dengue: Prevenção da dengue causada pelos quatro sorotipos do vírus. A vacina se mostrou eficiente na redução dos índices de internação em mais de 80% dos casos em pacientes que já contraíram a doença (indicada de 9 a 45 anos).
• Herpes Zoster: A vacina protege contra o herpes zoster, popularmente conhecido como “cobreiro”, e sua principal complicação, a neuropatia pós-herpética, responsável por dor crônica, prolongada, de difícil controle e extremamente debilitante (indicada acima de 50 anos).
• Pneumocócica Polissacarídica 23-valente: Proteção contra a infecção pelo pneumococo. Indicada para pacientes a partir de 2 anos de idade com doença de base que os coloquem em risco para a doença (diabetes, cardio e pneumopatias, esplenectomizados, etc.) e idosos. Não é vacina recomendada para imunização básica de crianças. Deve ser considerada como rotina para maiores de 60 anos.
3- A falta de vacinação pode causar sequelas ou levar à morte? Exemplifique, por favor.
As vacinas são poderosas ferramentas, com comprovada capacidade para controlar e eliminar doenças infecciosas que ameaçam a vida.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que de 2 a 3 milhões de mortes a cada ano são evitadas pela vacinação e afirma que a imunização é certamente um dos investimentos em saúde que oferecem o melhor custo-efetividade para as nações. Isso significa que as vacinas possibilitam excelente resultado de prevenção a baixo custo quando comparadas com outras medidas, o que é muito importante, principalmente nos países sem condições adequadas para realizar diagnóstico e tratamento de doenças. Prevenir é sempre o melhor caminho.
Muitas doenças graves, que podem deixar sequelas ou até mesmo levar a óbito, podem ser evitadas através da vacinação. De fato, a baixa adesão à vacinação pode fazer com que doenças consideradas erradicadas voltem a circular e oferecer risco à população. É o caso da poliomielite, doença erradicada no Brasil, que teve uma diminuição de 95% de crianças imunizadas em 2015 para 84,4% em 2016, chegando a apenas 78,5% em 2017. Esta é uma redução preocupante, pois as crianças estão deixando de receber proteção contra pólio através da vacinação. O mesmo ocorre com sarampo: de 2016 para 2017 a cobertura vacinal dessa doença caiu drasticamente no Brasil, possibilitando o retorno da doença.
4- Existem pais que optam por não vacinar seus filhos. Você vê alguma vantagem nessa atitude? O que leva os pais a não vacinar?
Não vejo vantagem nessa atitude. A vacinação oferece proteção contra doenças, muitas delas graves, como é o caso da poliomielite, da meningite e tantas outras. Além disso, pais que optam por não vacinar o filho estão pensando individualmente, ou seja, somente no seu filho, e não no todo. Quando se fala em vacina, há que se pensar coletivamente. Temos um conceito chamado de “imunidade de rebanho”, ou seja, quanto maior o número de indivíduos vacinados, menor a chance do vírus ou bactéria circular, o que consequentemente faz com que todos fiquem protegidos.
É importante ressaltar que o risco do retorno de doenças já ou quase erradicadas é uma das consequências dos baixos índices de imunização. Como exemplo, temos o retorno de doenças graves como o sarampo e a poliomielite, assim como da coqueluche e caxumba, em função dos baixos índices de vacinação.
Um fator que também influencia na não adesão das pessoas à imunização é o medo das reações adversas. É muito importante alertar para o problema das fake news (notícias falsas) sobre saúde que circulam em redes sociais e aplicativos de mensagens, muitas vezes desencorajando as pessoas a tomar vacinas. Infelizmente, muitos boatos sem nenhum embasamento científico circulam e muitos pais, acreditando em notícias falsas, ficam inseguros.
5- O calendário brasileiro de vacinação da rede pública é completo? Existe algum tipo que seria importante acrescentar e que hoje só se encontra em redes particulares?
O SUS, por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), oferece a quase totalidade das vacinas recomendadas pela Sociedade Brasileira de Imunização (SBIM) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) no Calendário Nacional.
Por motivos de custo elevado e até mesmo da disponibilidade dos laboratórios, algumas vacinas não são contempladas no calendário nacional e estão disponíveis somente na rede privada. Podemos citar:
• Vacina contra o meningococo tipo B: recomendada a partir dos 2 meses de idade.
• Vacina contra o meningococo tipos ACWY: recomendada a partir dos 2 meses de idade.
• Vacina pneumocócica 13valente: possibilita aumentar a cobertura de proteção contra pneumococo também na criança. Recomendada a partir dos 2 meses.
• Vacina contra o Rotavirus Pentavalente: possibilita aumentar a cobertura contra o Rotavirus.
• Vacina Hexavalente: vacina acelular, que oferece menor risco de reação à criança.
• Vacina contra dengue: indicada para pessoas que já contraíram a doença, a partir dos 9 anos de idade (como muitas pessoas já tiveram dengue e não sabem, pois os sintomas podem ter sido confundidos com outra doença, existem testes que podem ser aplicados para fazer a confirmação antes de ser dada a vacina).
Dr. Luis Alberto Verri (CRM 51162) é médico pediatra, formado pela UNICAMP, onde realizou a residência em pediatria, especialista pela SBP. Atua no Hospital Vera Cruz desde 1985, e com vacinas desde 1996 na Clínica Previna.
Juliana S. Leite Ferreira (COREN 246240) Enfermeira formada pela Universidade Paulista (UNIP). Atua desde 2010 no segmento de vacinas na Clínica Previna